A poesia é medo e sedução
Esconderijo e alto-falante
Em silêncio, ela amplifica aqulio que está intocado mas relutante
Sem tirá-lo, porém, do lugar
Ó, poesia, és tu mesma
O estetoscópio dos loucos e dos não-médicos
Respira: uma fobia
Expira: uma paranoia
Grunhe: uma arma
Grita: aquilo que te salva
A poesia tá ali, no núcleo: inlocalizável e impermanente
Mistura-se a tecidos, órgãos, bactérias, glóbulos brancos
E a vida que não é ser: é vírus
Ser desprovido de metabolismo próprio
Mas que já vem com plural
A poesia é bela
Segue, quando quer, padrões estéticos.
Gosta de partilhar o sensível
Ao mesmo tempo em que enfoca, esconde
Ela rega e degola; encontra e perde
Sabe e omite
Mente mas aponta o caminho
Escrever é jogar-se fora
Na calçada
Na rua
Na sarjeta
O poeta é o tipo do cara que entope o ralo
Que traz o esgoto à tona
Que mexe com o lixo
O poeta entendeu, desde cedo
Que o lixo da mente é o luxo na da alma.
sábado, 22 de julho de 2017
sexta-feira, 21 de julho de 2017
Grave idade
(Luiz Magalhães)
Hoje as portas se fecharam
Os grilos se calaram
E o peso ficou mais pesado que a consciência
O dia é cinza
É da cor das cinzas do meu pai
Que eu espalhei na relva das lacunas
Por entre os tijolos das paredes da memória
Expostas
Sem gesso
Sem tinta
Hoje o mundo cai mais rápido que o tempo
Ele corre para o fundo, para o andar debaixo
A força da gravidade é lei não-escrita
É olho por olho; dente por dente
Queda por queda
Meu estômago não é mais o mesmo depois desse livro,
Dessa foto
Desse quadro
Ou dessa música
Eu não sou mais o mesmo depois do passado
E muito menos desse tal de depois: o para-além-do-que-já-passou
Tem regra não
Tem riso só quando a raiva vem do ventre
Tem choro só quando desmorono
Só quando a casa cai
Quando o chão se abre
Quando a gravidade dá o ar de sua graça
Tem santo que dê jeito?
Sei lá
Talvez o mito
Que é a mesma coisa
Tem arroz na mesa
Onde exercemos a nossa sobrevivência
Lá, na mesa
Onde a carne é servida, depois de morta
Na sala de jantar
Na hora do almoço
Tudo é aquela coisa
Dentes apostos
Sangue nos olhos
Estômago em sacia-ação
Digerir a carne é apodrecer-se por dentro
Hoje as portas se fecharam
Os grilos se calaram
E o peso ficou mais pesado que a consciência
O dia é cinza
É da cor das cinzas do meu pai
Que eu espalhei na relva das lacunas
Por entre os tijolos das paredes da memória
Expostas
Sem gesso
Sem tinta
Hoje o mundo cai mais rápido que o tempo
Ele corre para o fundo, para o andar debaixo
A força da gravidade é lei não-escrita
É olho por olho; dente por dente
Queda por queda
Meu estômago não é mais o mesmo depois desse livro,
Dessa foto
Desse quadro
Ou dessa música
Eu não sou mais o mesmo depois do passado
E muito menos desse tal de depois: o para-além-do-que-já-passou
Tem regra não
Tem riso só quando a raiva vem do ventre
Tem choro só quando desmorono
Só quando a casa cai
Quando o chão se abre
Quando a gravidade dá o ar de sua graça
Tem santo que dê jeito?
Sei lá
Talvez o mito
Que é a mesma coisa
Tem arroz na mesa
Onde exercemos a nossa sobrevivência
Lá, na mesa
Onde a carne é servida, depois de morta
Na sala de jantar
Na hora do almoço
Tudo é aquela coisa
Dentes apostos
Sangue nos olhos
Estômago em sacia-ação
Digerir a carne é apodrecer-se por dentro
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