quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Deusa dos ventos

Deusa dos ventos
(Luiz Henrique Costa)

Olhos que cegam a sobriedade
Sorrisos que abraçam o além-mar
Ela foi dica do sabiá
Concha do colar dos botos
Fruto da espera do carvão

Deusa dos ventos que desviam rotas
Que confundem as aves
E espalham o fogo

Overdose da natureza
Contemporânea dos lírios
Tiro certeiro na mata

Ela veio do barro
Se esgueira pelas pedras
E anda acima das copas





Bom dia.

Bom dia.
(Luiz Henrique Costa)

Acordar, café, manhã
Abrir a porta
Ignição.

- Olá! sentar, horas, passar
Páginas, sim, não,
- Melhor da próxima vez!

TV, sofá, estar, jantar
- Como vai?

Cama, vira,
- Até amanhã.









Ode a vontade

Ode a vontade
(Luiz Henrique Costa)

Que vontade de poder!
Querer que late latente
Potência de poder - à vontade

Quero sorrir a esmo
Esmerar-me em vossos segredos
Segregar o corpo da mente
Mentir pra poder voar

Asas pra cantar bem alto
Altura para cair bem devagar
Divagar atento à Lua
Enluarar-me ao som dos grilos-falantes

Ah! que vontade dessa vontade!
Beber das águas do fundo do mar
Nadar nas poças de nuvens
Levitar nas ondas que chegam aos ouvidos

Fonte do desejo do querer
Coisa-que-quer-por-si-só
Comichão que dá e não passa






Poetinha

Poetinha
(Luiz Henrique Costa)

Poeta escreve sons
Respira mundos
Desconfigura a matéria
Carnavaliza o absurdo

O poeta não entende porque o leêm


Coração Poente

Coração Poente
(Luiz Henrique Costa)

Coração entope
Quando há limo nas palavras-fechaduras
Coração abre
Quando escrevo sem pontuação
Coração não atura
A mania de esconde-esconde
Perplexo, se põe
E nasce no lado oposto
Ao Sol.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Humanóide

Humanóide
(Luiz Henrique Costa)

Era tão bom quando era humano
Era tão difícil quando era humano
Tão fêmea, tão macho - quando era humano

Era tão diferente de tudo que existia
Era tão mutável, quando era humano
Havia sabores, cores e sentidos
Quando éramos humanos

Agora tudo engrenou
Agora tudo engraxou
Agora tudo engavetou
Tudo embotou

Agora o ser é semi-humano
Semi-cor, semitons,
Um ser sem si em semi-metafisica


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Procura-se sonhos perdidos

Eu tinha sonhos
De verão e primaveras
Eu tinha um mundo
Que criei
Havia invernos e outonos
Havia riquezas não-palpáveis
Realidade incomensurável
Meus mitos, meus monstros
Minha terra não-natal
Porém minha; e sua.
Havia você.
Havia.